26 de agosto de 2012

E quando me dei conta...

Odeio essa garota, pensou Kátia enquanto observava Tati passar.

Tati devia ter em torno de 19 anos. Tinha cabelos curtos e formas masculinas. Kátia odiava o modo como ela se portava, o modo como vivia fazendo tudo sem se importar com nada, como ela podia agir daquele jeito? O fato de ser sua colega de classe só piorava a situação. Kátia, é claro, sempre tratara Tati com o devido respeito, mas por dentro não suportava conviver no mesmo ambiente que ela.

Naquele dia não foi diferente, Kátia estava sentindo-se incomodada pela presença da colega ao se encaminhar para a quadra, onde teria aula de Educação Física. Decidiu então inventar uma desculpa qualquer para não participar do jogo.

Quando o professor a liberou, Kátia se dirigiu ao banheiro para lavar o rosto, estava demasiado quente para aquela época do ano. Ao entrar no lugar, seguiu direto para pia, mas logo percebeu que não estava sozinha, pois ouviu um barulho em um dos boxes. Se aproximou do lugar de onde vinha o barulho e percebeu que a porta estava aberta. Quando de frente para a porta viu Mel, sua ex-colega de classe, alguém que sempre admirou, apesar de não nunca ter nenhum tipo de contato. Mel estava de costas terminando de trocar a blusa.

-O que estava fazendo aí parada me olhando? - perguntou Mel ao se virar.

-Eu... me desculpe, eu ouvi um barulho e só... me desculpe. - e foi-se virando para sair dali, quando então sentiu a mão de Mel segurando o seu braço.

- Não, tá tudo bem. Me desculpe, acho que fui um pouco grossa. Meu nome é Mel, o seu é Kátia, não é?

Ela sabe meu nome, pensou Kátia feliz, sem entender ao certo motivo da felicidade. - Sim, é isso mesmo - respondeu.

-Então Kátia, fugindo da aula?

Ela não sabia o porque, mas o sorriso de Mel parecia-lhe tão fascinante e a voz tão doce, como o próprio nome. Então sorriu antes de dizer. - É, eu não gosto muito de exercícios físicos, prefiro exercitar minha mente.

- Verdade? Bem, eu também. Você gosta de jogar xadrez? Se quiser pode ir até minha casa na semana que vem para uma partida, o que acha?

- Seria demais! - respondeu Kátia, tão empolgada que achou que estava parecendo uma idiota.

- Então, segunda-feira que vem depois da aula nós vamos pra minha casa, tudo bem?

- Ok. Até lá então - respondeu Kátia, com um sorriso de orelha a orelha.

A semana passou e finalmente chegara segunda-feira. Kátia estava ansiosa, não tinha falado com Mel desde aquele dia, mas passara todos os dias lembrando do momento. Ela se questionou por estar tão feliz, seria isso normal? Normal ou não, ela sabia que isso era algo que não conseguia controlar, pois já tinha tentado.

As aulas terminaram e lá estava Mel esperando Kátia na frente da escola.

Enquanto se encaminhavam para casa de Mel, Kátia sentia-se eufórica. Ela queria ser agradável, de alguma forma sentia como se quisesse conquistar a menina. Quero ser amiga dela, pensou.

Enfim, chegaram a casa e logo se encaminharam para o quarto de Mel, onde tudo era harmônico, as cores, os objetos, os móveis, tudo se resumia a harmonia.

Mel pegou o tabuleiro e as peças dentro de uma gaveta e enquanto fazia isso Kátia reparava nas suas mãos delicadas com dedos finos e longos. São tão elegantes... são tão lindas, pensou.


Jogaram e Kátia perdeu.

- Ah, não faça esse biquinho, eu jogo há bastante tempo. - disse Mel, enquanto segurava as mãos de Kátia. -  Sabe Kátia, eu... eu quero te dizer algo... por favor, não tenha medo.

Ao ouvir isso, foi a primeira coisa que Kátia sentiu: medo. O que será que ela vai dizer? Porque meu coração parece que vai sair pela boca? -  pensou, enquanto sentia a boca seca.

-Kátia, eu... por favor, não tenha medo... eu... eu gosto de você. Eu... eu sei que é estranho, mas eu quero ser a pessoa mais próxima de você.

Kátia demorou um pouco para assimilar as palavras e quando então entendeu não conseguiu dizer nada e nem fazer nada. - O que ela está querendo dizer? Isso é... errado! - concluiu por fim o pensamento.

-Kátia, eu te observo a muito tempo. Eu sempre quis falar com você, mas... por favor não tenha medo de mim.

Ela então foi a aproximando a cabeça, os lábios. Kátia estava imóvel, não sabia o que fazer. - O que estava acontecendo? Estaria ela sonhando? - pensou.

Quando sentiu a respiração de Mel bastante perto fechou os olhos e sentiu os lábios dela encostando nos seus. Começou a relaxar.

Era como estar flutuando. Começou a sentir um calor, algo bom, algo puro, não era algo malicioso. Deixou-se entregar ao beijo, não queria que terminasse. Sentiu a mão de Mel segurar o seu rosto.
Quando seus lábios se afastaram, ambas se abraçaram. Kátia sentiu as lágrimas começarem a saírem sem serem convidadas.

- Mel, eu gosto de você também - disse, com a voz embargada. - Eu nunca estive tão feliz em toda a minha vida. Olhou-a nos olhos, ao dizer estas palavras e deu-lhe um beijo. Como eu não percebi antes, pensou.

As duas permaneceram abraçadas por um longo tempo.

Por fim se viram aos risos. E então Kátia parou de rir e ficou séria de repente. - Mel, isso... isso não é errado?

- É errado ficar com alguém que se gosta?, disse Mel com um tom firme.

- Tem razão. - disse Kátia, explodindo de paixão.

No outro dia, quando estava chegando na escola viu Tati - a menina de cabelos curtos - passar, mas percebeu que não sentia mais aversão a ela. Se deu conta de que na verdade nunca sentira, o que sentia era inveja da atitude da menina. Ela sempre foi ela mesma, nunca teve medo disto, nunca vestiu nenhuma máscara, e tudo o que eu queria era ser como ela. -  pensou Kátia, enquanto caminhava para o portão de entrada da escola.

Eu a admiro. - disse Kátia  para Mel quando a encontrou, enquanto apontava para Tati. -Serei de agora em diante eu mesma, como ela sempre foi. - completou, enquanto segurava uma das mãos de sua amada.

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Atençãovocê leu um conto fictício e eu só fiz isso uma ou duas vezes, então tenha piedade.

3 comentários:

Leh ou Helena disse...

Oi, Stefani!

Que bacana! Além de tudo uma escritora. Vai fundo! Tem talento! Amei! Parabéns!

Finalmente um tempinho... curto, mas o suficiente pra seguir seu blog e acompanhar seus contos.

Bjo

João disse...

Que história fofa, Tef!

Você levar a personagem principal de uma confusa homofóbica enrustida à alguém entregue ao amor e que finalmente se entendia foi muito bem sacado.

Só achei o modo como as coisas aconteceram rápido demais. Sei que é um conto e tudo tem que se mostrar resumidamente, mas achei que faltou uma ponte interligando duas que mal se conheciam e pouco haviam conversado e duas amantes.
Quando a Mel fala "é errado ficar com alguém que se ama?", eu não consegui comprar a frase.

Mas talvez isso tenha a ver com a minha concepção da palavra amor. :3

Enfim, gostei, é questão de treinar a narrativa - que aliás é gostosa e você sabe usar bem as palavras, diálogos e intercalar as cenas, mas parece deixar uma ou outra peça faltando na história.

E parabéns especial pelo tema.
(espero que não fique brava comigo)
Bjo

Dinho disse...

Oii!!
Adorei o conto! Continue escrevendo...
Parabéns mesmo!!!